Os eventos climáticos extremos favorecem a disseminação de doenças infecciosas. Por isso, manter a vacinação em dia é uma medida de proteção essencial
O avanço das mudanças climáticas é uma realidade que afeta diretamente a saúde global. O aumento das temperaturas, a elevação do nível do mar, os eventos climáticos extremos e a perda de biodiversidade não impactam apenas o meio ambiente — eles também criam condições ideais para a disseminação de doenças infecciosas.
De acordo com a agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de três bilhões de pessoas vivem em regiões altamente vulneráveis às mudanças climáticas. A crise climática já gera impactos diretos na saúde, como poluição do ar, disseminação de doenças, eventos extremos, insegurança alimentar e transtornos mentais. Estima-se ainda que fatores ambientais sejam responsáveis por cerca de 13 milhões de mortes por ano.
O aquecimento global amplia a área de circulação de vetores como mosquitos e carrapatos, que transmitem doenças como dengue, chikungunya, zika, febre amarela e malária. Segundo o Ministério da Saúde, os casos de dengue quadruplicaram entre 2023 e 2024 no Brasil. Além disso, o aumento das chuvas, as inundações e a degradação ambiental facilitam surtos de doenças transmitidas pela água contaminada, como hepatite A, leptospirose, febre tifoide, entre outras.
“Nesse cenário, a imunização é uma das ferramentas mais importantes para proteger a população contra infecções, que tendem a se tornar mais frequentes e imprevisíveis”, aponta a pediatra e coordenadora do Centro de Vacinas Pequeno Príncipe, Heloisa Ihle Garcia Giamberardino.
Mudanças no padrão climático interferem diretamente no comportamento de agentes infecciosos e vetores de doenças. Temperaturas mais altas, por exemplo, aceleram o ciclo de vida dos mosquitos, o que favorece sua proliferação e aumenta a velocidade com que transmitem vírus. A maior incidência de chuvas intensas e enchentes facilita a contaminação de reservatórios de água, tornando a disseminação de doenças mais rápida em comunidades vulneráveis.
Ademais, o desmatamento e a urbanização desordenada elevam o risco de contato direto com animais silvestres, aumentando a probabilidade de surgimento de doenças zoonóticas — transmitidas de animais para humanos.
Diante da instabilidade climática, manter a cobertura vacinal em dia é mais do que uma medida preventiva, é uma estratégia de contenção de riscos.
Os imunizantes protegem de forma eficaz contra diversas doenças cuja incidência pode ser agravada pelas mudanças ambientais. Entre elas:
– febre amarela: transmitida por mosquitos, com surtos mais frequentes em períodos chuvosos e quentes;
– hepatite A: associada à água e alimentos contaminados, comuns em áreas atingidas por enchentes;
– dengue: a crise climática é apontada como uma das causas do aumento da dengue no Brasil. Isso porque o mosquito transmissor (Aedes aegypti) se reproduz em regiões quentes e com água parada;
– tétano: doença infecciosa grave, não contagiosa, causada pela bactéria Clostridium tetani, que pode ser encontrada em objetos, terra e fezes de animais.
As mudanças climáticas impactam a saúde humana, criam ameaças e agravam doenças antes sob controle, por vezes, em consequência de interrupções no abastecimento de água e no saneamento. Nesse contexto, vacinar-se é um ato de cuidado individual e coletivo — uma forma eficaz de proteger-se e contribuir para um futuro mais resiliente.
Embora muitas doenças infecciosas possam ser prevenidas por vacinação, outras, como leptospirose, malária, infecção pelo vírus zika, entre outras, ainda não possuem imunizantes. Essas exigem cuidados preventivos, como higiene ambiental e redução dos vetores.
Diante do aumento dos riscos em decorrência das mudanças climáticas, adotar medidas preventivas é fundamental para a proteção da saúde, como:
– revisar o calendário vacinal de toda a família periodicamente e, principalmente, antes de viagens;
– evitar o acúmulo de água parada, principal criadouro do mosquito Aedes aegypti;
– manter calhas, caixas-d’água e ralos sempre limpos e tampados;
– evitar contato com água de enchente ou lama contaminada;
– consumir apenas água potável ou tratada;
– lavar as mãos antes do preparo dos alimentos e das refeições;
– manter o lixo fechado e longe do alcance de animais, para evitar a proliferação de ratos e outros transmissores;
– buscar atendimento médico ao surgirem sintomas, como febre, vômito, diarreia, dores no corpo ou olhos.
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